segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Estou Vivo

Caros leitores do blog,

Sim, estou vivo. Faz quase um mês desde que postei pela última vez, e notei, pelas estatísticas do Google, que o número de visitantes está caindo. Na verdade, o que aconteceu é que, desde que parei de trabalhar como pesquisador, tenho menos assuntos acadêmicos de economia para opinar publicamente.

No momento, sou professor do Curso JB, um tradicional cursinho preparatório para o Instituto Rio Branco em Brasília. Estou gostando muito da estrutura do lugar, das pessoas e do interesse e comprometimento dos alunos. É verdade, tenho alunos de mais de 30 anos e formados em direito ou relações internacionais que entendem muito mais de economia do que muitos dos meus ex-colegas de graduação. Além do mais, dar aulas é muito agradável e recompensador, principalmente para alunos motivados a aprender (e não necessariamente com uma sólida base prévia). Após mais de um ano trabalhando como consultor de microeconometria, estava com saudades de interagir com pessoas. Estatística e econometria são fundamentais para o desenvolvimento da profissão de economista, isso está fora de discussão, mas concluí que é muito mais agradável trabalhar com base de dados quando se tem o poder de coordenar o próprio projeto de pesquisa.

Para ministrar minhas aulas, venci meu preconceito e adotei o manual de Introdução à Economia do Mankiw. Sempre tive uma certa resistência a essa obra, tanto pela peculiar ordem dos capítulos (por exemplo, a teoria do consumidor, núcleo irredutível da teoria microeconômica está no capítulo 21, ao passo que noções sobre comércio internacional está logo no capítulo 3), como também pelo enfoque explicitamente liberal do autor. Isso para mim não é exatamente um grande problema, mas temo que pode parecer até mesmo ofensivo para profissionais das áreas de ciências humanas. Também sinto falta de um ou dois capítulos sobre a história do pensamento econômico. Contudo, o livro é mais completo e com uma linguagem menos técnica do que o Manual de Economia dos Professores da USP, que usei na minha graduação. Inclusive, me lembro de ficar incomodado e assustado com o "economês" daquele manual na primeira vez que o peguei para estudar, quando era calouro da UFRGS, em 2002.

Fora isso, tenho acompanhado a atual flame war entre os economistas blogueiros Adolfo Sachsida e "O Anônimo", que posta no blog do Alexandre Schwartzman. Isso me incentiva a revisar meus conhecimentos de teoria da política monetária. E também tenho torcido muito para que o povo da Líbia se liberte do seu opressor ditador, independente dos riscos a que se submetam no futuro próximo.

A partir dessa semana, quero voltar a postar com mais freqüência. Estou devendo vários posts para o público, desde uma análise da conjuntura política do Brasil pós-eleições até um discussão sobre metodologia da economia com o meu amigo ex-cedeplariano Victor Delgado.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Hipóteses sobre a Balança Comercial de Futebolistas Brasileiros

O Flamengo contratou o Ronaldinho Gaúcho (que leilou seu contrato com o Grêmio e o Palmeiras) e o Thiago Neves. O Fluminense contratou o Araújo e o Diego Cavalieri. O Inter acertou com o argentino Cavenaghi. O Santos buscou o Elano de volta. O Vasco importou o Eduardo Costa e o Elton. O Corinthians se reforçou (ainda que tardiamente) com o Liédson. E todos esses times só exportaram suas revelações do ano passado para times desconhecidos de campeonatos desconhecidos, como a Ucrânia, a China e os países do Oriente Médio, salvo raras exceções.

Nesses últimos meses, a imprensa esportiva vem nos brindando com informações sobre as transações dos times de futebol brasileiros com os times do exterior. Ao contrário do que qualquer torcedor com mais de 10 anos de idade está acustumado a ler e ouvir, agora são os times brasileiros que estão importando (ou repatriando) os jogadores do exterior. Para explicar esse fenômeno, levanto três hipóteses para serem testadas, caso alguém tenha uma boa planilha de dados a respeito.

Em primeiro lugar, a hipótese mais provável: a crise financeira e fiscal que assola os países europeus contagiou o mercado do futebol. Por isso, os clubes estão investindo menos em reforços, e se desfazendo de jogadores de alto salário. Contudo, cabe lembrar que uma parte significativa das cifras futebolísticas de vários grandes times europeus não é proveniente de geração própria, mas sim de repasses diretos de seus proprietários, muitos deles com negócios escusos em países da antiga União Soviética e do Oriente Médio. Por isso, acredito que esse fator, por si só, não explica o atual déficit em conta corrente futebolística da economia brasileira.

A segunda hipótese é a valorização cambial. O real valorizado está fazendo com que a compra de jogadores de futebol brasileiros por parte dos clubes europeus não valha a pena, pois esses têm que arcar com o risco da não-adaptação dos jogadores a sua realidade (risco entendido como saudade da praia, da cerveja gelada, do carnaval e do samba), afetando negativamente o seu desempenho. Por outro lado, o real valorizado significa a valorização dos salários no Brasil, incentivando alguns jogadores a procurar empregos nos clubes nacionais pelos mesmos motivos expostos anteriormente.

Por fim, levanto uma terceira hipótese, mais pessimista que as duas anteriores. Talvez o futebol brasileiro tenha perdido o seu brilho em relação às décadas passadas. Nos anos 90, Romário, Ronaldo Nazário, Rivaldo, Leonardo, e mais recentemente, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, eram os melhores jogadores do mundo. Atualmente, qual jogador brasileiro é considerado incontestavelmente um grande craque de reputação internacional, a não ser os veteranos como o zagueiro Lúcio? O Felipe Melo? Não se pode descartar a hipótese de que o mau futebol desempenhado pela Seleção Brasileira na última Copa do Mundo seja proveniente (não estou eximindo de culpa a escalação do ex-técnico Dunga) de uma crise de renovação dos jogadores brasileiros. Por isso, os clubes europeus podem estar querendo abrir vagas nas suas cotas de jogadores extrangeiros em benefício de africanos e hispano-americanos, às custas dos brasileiros.

Tudo isso são hipóteses, gostaria de ver dados mais concretos para ter uma opinião mais sólida a respeito do que está acontecendo. Provavelmente, o déficit na balança comercial do futebol brasileiro se deve a combinações entre as três hipóteses, mas qual delas seria a mais importante?